Precursores da Reforma Protestante
História da Reforma
Protestante
Professores Daniel Vargas Pereira e Ilaene Schüler
Os Precursores da
Reforma Protestante
a) John
Wycliffe (1328-1384). John
Wycliffe (1328-1384). Ao povo inglês desagradava enviar dinheiro para um papa em Avignon, que
estava sob a influência do inimigo da Inglaterra, o rei Francês.
Este sentimento
racionalista natural aumentou o ressentimento real e da classe média por causa
do dinheiro desviado do tesouro inglês e da administração do estado inglês
através dos impostos papais. O Estatuto de Preminur de 1353 proibiu a pratica
clerical de apelar das cortes inglesas para a papal em Roma. O pagamento do
tributo anual de mil marcos, também cessou neste período por ato do parlamento.
Foi em meio a este clima de reação nacionalista contra o eclesiaticismo que
Wycliffe entrou em cena.
Ajudado pelo
poderoso de Gaunt, Wycliffe conseguiu desafiar o papa.
Wycliffe estudou e
ensinou em Oxford maior parte de sua vida. Em uma obra de 1376 intitulada
“Sobre o senhorio civil”, ele exigia uma base moral para a liderança
eclesiástica, onde Deus concedia aos líderes eclesiásticos o uso e a posse dos
bens, mas não a propriedade, como um depósito a ser usado para sua glória. Essa
doutrina agradava os nobres que esperavam se apoderar das propriedades da
Igreja Romana. Eles e João de Gaunt protegeram Wycliffe para que a Igreja de
Roma não conseguisse pegá-lo.
Wycliffe desgostoso
com o cativeiro e o cisma, não se satisfez com essa postura apenas negativa e
começou, a partir de 1378, a ser opor aos dogmas da Igreja Romana com ideias
revolucionárias.
• Atacou a autoridade do papa em 1382, dizendo
num livro que Cristo e não o papa era chefe da igreja.
• Afirmou que a Bíblia e não a igreja era a
autoridade única para o crente e que a Igreja Romana deveria se modelar segundo
o padrão da igreja do Novo Testamento, as idéias de Wycliffe foram condenadas
em Londres, em 1382, e foi obrigado a se retirar para seu pastorado em
Lutterworth.
As habilidades de
Wycliffe influenciaram na preparação do caminho para a reforma na Inglaterra.
Ele deu aos ingleses sua primeira Bíblia no vernáculo e criou o grupo lobardo
para proclamar ideias evangélicas entre o povo comum da Inglaterra. Seus
ensinamentos de igualdade na igreja foram aplicados a vida econômica pelos
camponeses, que se revoltaram na Revolta dos Camponeses de 1381. Os estudantes
boêmios que estudavam na Inglaterra levaram suas ideias para a Boêmia, onde
lançaram os fundamentos dos ensinos de John Huss.
A Bíblia de Wycliffe
é o nome dado a um conjunto de traduções da Bíblia para o Inglês médio, feitas
sob a direção de John Wycliffe. Elas surgiram aproximadamente ao longo de um
período entre os anos de 1382 e 1395. Estas traduções bíblicas foram a causa
inspiradora do movimento pré-Reforma Protestante dos Lolardos, que rejeitava
muitos dos ensinamentos da Igreja Católica. A bíblia de Wycliffe tem 73 livros,
os exatos livros presentes na bíblia católica, 46 livros para o At e 27 livros
para o Nt, seguindo o mesmo cânon oficial estabelecido pela Igreja Romana nos
seus concílios.
b) John Huss (1373-1415). Praga. Sua
pregação coincidiu com o surgimento de um sentimento nacionalista boêmio contra
o controle da Boêmia de modo semelhante as colocações de Wycliffe. Suas ideias
provocaram a inimizade do papa e ele recebeu a ordem de comparecer ao Concílio
de Constança com um salvo conduto do imperador. Este, porém, não foi cumprido.
As suas ideias, como as de Wycliffe, foram condenadas. Como se recusasse a se
retratar, foi queimado na fogueira por ordem do Concílio, mas seu livro, De
Ecclesia, sobreviveu. Os perseguidores podem destruir os corpos dos homens, mas
não podem destruir ideias, e as de Huss foram disseminadas por seus seguidores;
a Igreja Romana tirou sua vida, mas não acabou com sua influência.
Os seus seguidores ficam conhecidos como os Hussitas. A Igreja
Católica não perdoou tais rebeliões e ele foi excomungado em 1410.
Condenado pelo Concílio de
Constança, foi queimado vivo e morreu cantando um
cântico [cântico de Davi" Jesus filho de Davi tem misericórdia de mim]
Um precursor do movimento protestante, a sua extensa obra escrita concedeu-lhe
um importante papel na história literária checa. Também é responsável pela
introdução do uso de acentos na língua
checa por modo a fazer corresponder cada som a um símbolo
único. Hoje em dia a sua estátua pode ser encontrada na praça central de Praga,
a Praça da Cidade Velha, em checo Staroměstské náměstí.
c) Jerônimo de
Praga (1379-1416):
Nascido em uma rica família em Praga, foi um dos mais próximos amigos de John
Huss. Sua excelente eloquência e seu grande entendimento o transformaram em
constante ameaça à igreja. Ele advogou publicamente em favor de Huss quando
este estava em julgamento por heresia. Sua grande eloquência, seu vasto
conhecimento, sua excelente educação foram os verdadeiros fatores que acabaram
por levar-lhe à fogueira ao invés de heresia.
d) Wessel
Gansfort (1419-1489):
Nascido em Groningen, Alemanha, foi teólogo nos Países Baixos do norte
(Flandres). Apregoava contra a crescente paganização do papado, o uso
supersticioso dos sacramentos, a autoridade eclesiástica tradicional e a
teologia escolástica. Lutero publicou uma série dos escritos de Wessel.
e) Savanarola (1452-1498). Wycliffe e Huss foram estigmatizados como hereges que colocaram a Bíblia como o primeiro padrão de autoridade; Savanorola, porém, estava, mais interessado na reforma da igreja em Florença. Depois de se fazer monge dominicano em 1474, foi designado para Florença alguns anos depois. Ele procurou reformar o Estado e a igreja na cidade, mas sua pregação contra a vida desregrada do papa provocou a sua morte por enforcamento. Mesmo sem chegar as posições vanguardistas de Wycliffe e Huss, ele exigiu a reforma da Igreja Romana.
f) Johannes
Oecolampadius (1482-1531): Nascido em Weinsberg, Alemanha, ele não foi um
grande teólogo, mas tornou-se um líder religioso que desfrutava da confiança
dos fiéis. Adotou a nova fé após abandonar o monastério (amisi monachum, inveni
Christianum – perdi o monge, achei o cristão) e ajudou Zwinglio a converter o
Cantão de Berna. Oecolampadius vem do grego e significa “luz doméstica”.
g) Wolfgang
Köpfel (1479-1541):
Alemão da Alsácia. Formou-se em medicina, direito e teologia. Juntou-se aos
beneditinos, entretanto acabou por ser o líder da Reforma em Strassburg.
h) Desiderius
Erasmus
nasceu em 1466, em Roterdã, Holanda, filho ilegítimo de um padre holandês. Ele
se tornou um monge agostiniano aos 21 anos, porém, mais tarde, foi dispensado
dos votos, tendo ido estudar Teologia na Universidade de Paris. Mais tarde, ele
se tornou professor de Grego na Universidade de Cambridge. Ele foi distinguido
com a publicação do seu primeiro Novo Testamento Grego, em 1516. Embasadas
neste seu trabalho vieram as principais traduções da Bíblia, na Inglaterra,
Alemanha, França, Itália, Holanda, Suécia e Dinamarca, inclusive a de Lutero, (1522),
a de Tyndale (1525), a versão francesa Oliveton (1535), a italiana Diodati
(1607) e a mais famosa de todas, a Versão Autorizada de 1611 - a King James -
em Inglês.
Erasmo, o
Reformador
Erasmo
tornou-se uma figura líder na tentativa de realizar uma reforma dentro da
Igreja Católica Romana. Ele criticava publicamente as grandes e inúmeras
corrupções e os abusos que via dentro dos mosteiros e entre o sacerdócio,
especialmente em sua obra “Praise of Folly”
(1510) – Elogio da Tolice. Ele se opôs à Inquisição e ao tratamento da
Igreja contra os chamados “hereges”. Rejeitou as imagens, relíquias, orações a
Maria, celibato clerical, peregrinações e outras superstições da Igreja de
Roma, muitas dessas críticas através de notas, ao longo do seu texto.
O
Cristianismo [Catolicismo], dizia Erasmo, fora feito não para demonstrar amor
ao próximo [Gál.5.14], mas para se abster de manteiga e queijo durante a
Quaresma. Tal foi o impacto que ele causou que as hierarquias da Igreja lhe
ofereceram bispados, a fim de silenciá-lo, porém sem resultado algum. Ele não
temia a controvérsia. Ele produziu o seu Texto Grego com o objetivo de realizar
a tão necessária reforma na Igreja. Apesar da oposição, Erasmo sempre gozou de
poderoso apoio, tanto dentro como fora da Igreja. Talvez um dos seus aliados
mais fortes tenha sido o papa Leão X. Leão ajudou Erasmo imensuravelmente e
este, agradecido, dedicou-lhe o seu Novo Testamento Grego. Somente depois de
sua morte foi que houve alguma reação oficial da Igreja contra ele. Até então, tinha
havido apenas reações particulares de indivíduos. Após sua morte, suas obras,
inclusive o Texto Grego, foram colocados no Index de Livros Proibidos pelo
Concílio de Trento (1545-1563), quando ele foi rotulado como “herege ímpio”.
Ao
contrário de Lutero, Erasmo achava que a reforma poderia vir mais
facilmente com a melhoria da compreensão
intelectual do povo e com o retorno aos ensinos morais de Cristo. Por sua vez,
Lutero buscava uma reforma não entre os gigantes intelectuais da Europa, mas
entre o povo simples. Para isto ele confiava não apenas no aprendizado erudito,
mas no poder do Evangelho, que era loucura para os sábios e eruditos deste
mundo (1 Coríntios 1:25-27).
Contudo,
Erasmo foi um reformador moral, não doutrinário. Os males que ele combatia
eram: a hipocrisia, o orgulho, a ambição, o egoísmo, a imoralidade, a injustiça
e a ignorância. Nisto ele foi muito influenciado pelos ensinos de Cristo, os
clássicos e os pais da igreja primitiva. Acima de tudo, ele queria moderação de
ambos os partidos [Reforma Protestante e Catolicismo Romano]. Ele odiava o
fanatismo e a intolerância encontrados
nos clérigos da ICAR, temendo, ao mesmo tempo, que a intolerância de Lutero
pudesse simplesmente entrincheirar os dois partidos no mesmo erro. Embora tendo
simpatia pelas idéias do grande reformador alemão, Martinho Lutero, e
acreditasse que muitas críticas de Lutero eram justas, Erasmo achava que o seu
estilo de reforma de Lutero corria o perigo de destruir toda a obra de
tolerância, pela qual os humanistas vinham se empenhando em conseguir, há tanto
tempo. Inicialmente, Erasmo havia visto Lutero e a reforma favoravelmente, mas,
na medida em que as coisas evoluíam, Erasmo não pôde se juntar a um movimento
que havia falhado em viver segundo os preceitos morais de Cristo: “Nunca
esperei por moderação em Lutero, mas também nunca estive preparado para uma
calúnia tão maldosa” .
Finalmente,
a Igreja pressionou Erasmo a opor-se publicamente à Reforma de Lutero, o que
ele fez, relutantemente, quando publicou, em dezembro de 1525, sua obra “De
Libero Arbitrio” (O Livre Arbítrio). Deste modo, ele pôde demonstrar
publicamente sua discordância de Lutero, sem criticar os seus propósitos
válidos. No livro, Erasmo definia o
“livre arbítrio” como um “poder da vontade humana, pelo qual o homem pode
aceitar ou se afastar das coisas que conduzem à salvação eterna”. Lutero
respondeu com o livro “Bondage of the Will” (Escravidão da Vontade), no qual
ele rejeitava toda a idéia do livre arbítrio, ensinando que o homem não tem
poder em si mesmo para responder ao Evangelho. Ele se queixou que Erasmo usou
de excessiva eloqüência e não de bastante substância em sua obra, dizendo:
“Ninguém pode sobrepujá-lo. Você é como uma enguia, que escapa pelos dedos, ou
como o fabuloso Proteu, que muda de forma, exatamente nos braços de quem deseja
prendê-lo”. Erasmo foi capturado entre
dois partidos intolerantes. Os protestantes mantinham um amargo ressentimento
contra ele, enquanto os romanistas o tratavam com progressiva suspeita. O sonho
de Erasmo era unir a Cristandade, purgar a superstição e ver uma Europa com
amplo humanismo cristão, onde o amor, a alegria, a retidão e a justiça
prevalecessem. Desse modo, suas visões da reforma diferiam das de Lutero e isso
causou um rompimento entre eles.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMuito bom mesmo, parabéns pelo material postado, contribuiu muito para meus estudos! Muito obrigado aos meus professores e a faculdade (FPJLM)
ResponderExcluir